INTRODUÇÃO
O leasing de aeronaves desempenha um papel crucial na aviação comercial. Cerca de metade da frota mundial de aeronaves comerciais é arrendada e a frota em leasing operacional triplicou nos últimos 20 anos.
Este modelo de negócio permite que as companhias aéreas operem sem necessidade dos avultados investimentos de capital que a aquisição e modernização das frotas exige. A recuperação gradual do tráfego aéreo global que se seguiu à pandemia e o compromisso imposto pelas dificuldades que ainda vigoram nas cadeias de abastecimento globais e que assolam empresas como a Boeing e a Airbus, posicionam a AerCap Holdings para capitalizar a forte procura que se manterá nos próximos anos, com o número de Kms percorridos por passageiros (RPK) a atingir novo pico em 2024.
Para além disso, os maiores fabricantes, sujeitos a fortes atrasos e por diferentes motivos, não conseguem acompanhar a procura, criando um desequilibrio significativo entre as encomendas (backlog) e as entregas (deliveries) e que se agravou com a Pandemia.
A EMPRESA
A AerCap Holdings N.V., sediada em Dubin, Irlanda, é a maior proprietária mundial de aeronaves comerciais e a maior empresa de leasing do setor.
Foi fundada em 2006 e expandiu-se significativamente através de aquisições estratégicas que incluíram a InternaKonal Lease Finance CorporaKon (ILFC) em 2014 e a General Electric Capital AviaKon Services em 2021.
Estas aquisições consolidaram a posição da AerCap com o monopólio dos ativos mais procurados e com maior desenvolvimento tecnológico do mundo no setor. Esta escala, combinada com uma equipa dotada de uma visão estratégica única e liderada pelo seu CEO, Aengus Kelly, potenciou a criação de um gigante totalmente desconhecido para o investidor comum. O portfólio da empresa inclui 1.722 aeronaves, mais de 1000 motores e 300 helicópteros, com um total de 393 encomendas em curso e 3.492 ativos distribuídos entre aeronaves, helicópteros e motores. Este inventário é superior a qualquer companhia aérea do mundo.
A empresa distribui os seus ativos por 300 clientes em 80 países. É o maior cliente da Boeing e da Airbus e é a maior locadora mundial de Airbus A320neo, Boeing 787 e a primeira de jatos Embraer E-Jets E 2. 73% da sua frota é composta por aeronaves de nova tecnologia e mais de 90% da frota é composta pelas famílias A320ceo e neo, A330, A350, 737NG, 737 MAX e 787, as mais procuradas no mundo inteiro pelas companhias aéreas.
A posição dominante no mercado, aliada às capacidades de alocação de capital da equipa gestora, conferem-lhe primazia sobre a produção dos maiores fabricantes, anulando a concorrência e privilegiando a negociação de termos altamente proveitosos nos seus contratos de leasing de longo prazo. A sua supremacia é garantida pela intervenção criteriosa em todas as fases do seu ciclo de negócio e que incluem condições de financiamento favoráveis, beneficiadas pelo elevado rating junto das agências de crédito, prioridade na aquisição dos seus produtos, cobertura das fortes necessidades dos seus clientes e gestão eficaz do ciclo de vida das aeronaves.
ESTRUTURA FINANCEIRA
A AerCap tem uma estrutura financeira sólida e que se reflete em $74 biliões em ativos e um património líquido de $17 biliões. A relação dívida/capitais próprios é de 2.4x, um valor saudável e que tem reduzido ao longo dos anos, apesar do esforço de crescimento por aquisição da empresa.
O domínio do seu setor e a saúde financeira da AerCap não despertou ainda a atenção dos investidores e a empresa é negociada a múltiplos considerados baixos para a sua posição monopolista. O preço/valor contabilístico (P/B) atual ronda o 1/1 e valor contabilístico por acção é de $90.66. Isto significa, com uma acção cotada nos $95, que a empresa está a ser negociada praticamente pelo seu património líquido, descontando toda a vantagem competitiva no seu mercado e potencial de crescimento, bem como o superior nível de gestão e retornos aos acionistas no futuro.
Múltiplos como o preço/lucros (P/E de 7.66) e preço/free cash flow (P/FCF=3.25) consolidam uma valorização atrativa, mesmo considerando uma apreciação no preço da ação de 44% nos últimos 12 meses. Neste período, os lucros operacionais seguiram tendência de subida, apesar do cenário macroeconómico adverso e a necessidade de alavancagem com dívida, com resultados de EPS que superaram sempre a projeção interna da empresa.
Não é apenas na quota de mercado que a AerCap esmaga a competição. É também na sua capacidade de gerar free cash flow. Tem um racio entre o FCF e os seus ativos de cerca de 7.7% enquanto os concorrentes rondam, em média, valores inferiores a 6%.
A política de retorno de capital aos investidores é apelativa. Aprovou a autorização de um share buyback de $500 milhões durante o terceiro trimestre de 2024 e que vigorará até Março de 2025, complementando a autorização anterior de $105 milhões e que estava em vigor até
31 de Dezembro de 2024. Desde 2015, a empresa já anunciou mais de $8 biliões em buybacks e só em 2023 devolveu cerca de 18% da capitalização bolsista aos investidores.
Iniciou um dividendo trimestral modesto em 2024, de $0.25/acção, mas devolveu $1.3 biliões aos acionistas, 30% dos $4.2 biliões de free cash flow que gerou até à data.
RISCOS
A oportunidade é notória mas, apesar da segurança, investir neste setor não é totalmente desprovido de riscos. Para além da ciclicidade do mercado, da a exposição a um contexto macroeconómico com incerteza e as dúvidas sobre a resiliência do consumidor, 2020 ensinou- nos que eventos inesperados podem desafiar a sustentabilidade de qualquer negócio, apesar de a receita da AerCap estar saudavelmente diversificada entre os seus clientes, mesmo as grandes companhias aérea. Ainda assim, o desempenho operacional da AerCap depende da sua capacidade de renovação e modernização da frota e atrasos no fornecimento de aeronaves pelos fabricantes podem comprometer a geração de cash flow e retornos aos investidores de forma cíclica.
A empresa conta com ratings de crédito elevado, mas não é imune a taxas elevadas que podem deteriorar as margens, que estão também dependentes do valor residual dos seus aparelhos no final do ciclo de vida. Em 2022 a AerCap perdeu $2.5 biliões em equipamentos apreendidos pela Rússia, na sequência das sanções impostas pela invasão da Ucrânia.
CONCLUSÃO
O investimento na AerCap é ajustado a um perfil de investidor que decide moderar a exposição ao risco e escolher um player subvalorizado, que monopoliza o seu setor e que conta com uma equipa de gestão experiente, com conhecimento da indústria da aviação e que já provou ser exímia alocadora de capital, construindo uma empresa com resiliência financeira e eficiência operacional, foco na inovação e compromisso com os investidores, investindo numa muito provável valorização a longo prazo.
Nota: este artigo representa a opinião dos seus autores e não deve ser considerado recomendação de investimento